
Lula e Milei possuem visões diferentes ideologias
As eleições legislativas na Argentina, marcadas para este domingo (24), colocam à prova a capacidade de Javier Milei de consolidar sua base de apoio no Congresso. O resultado pode mexer com a relação do país com o Brasil.
O pleito renovará metade da Câmara dos Deputados (127 das 257 cadeiras) e um terço do Senado (24 dos 72 assentos), definindo o equilíbrio político que sustentará — ou limitará — o avanço da agenda ultraliberal do presidente.
Desde sua posse em 2023, Milei defende austeridade fiscal, desregulamentação econômica e redução do Estado.
Seu partido, LLA (La Libertad Avanza), possui apenas 37 deputados, o que impõe dificuldades para aprovar reformas estruturais, como privatizações, cortes de subsídios e mudanças no regime cambial.
Pesquisas apontam um cenário polarizado entre o LLA, o peronismo da União pela Pátria e a Pro (Proposta Republicana), de Mauricio Macri.
Para Caio Silva Magalhães, especialista em relações internacionais, o processo legislativo argentino será decisivo para os rumos do governo.
“O pleito legislativo argentino funciona como um termômetro da governabilidade de Javier Milei. A correlação de forças no Congresso definirá se o presidente terá condições de avançar com sua agenda de reformas ou se enfrentará um bloqueio institucional que pode paralisar decisões econômicas estratégicas.”, explicou ao Portal iG.
A instabilidade eleitoral ocorre em um contexto de inflação ainda elevada e risco-país acima de 900 pontos-base.
Em setembro, o LLA sofreu revés nas eleições provinciais em Buenos Aires, onde o peronismo obteve 47% dos votos, contra 34% do governo. O resultado foi interpretado como sinal de alerta para a base de Milei.
Brasil x Argentina
Os efeitos da disputa ultrapassam as fronteiras argentinas e podem impactar diretamente o Brasil, maior parceiro comercial do país dentro do Mercosul.
A relação entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei já é marcada por diferenças ideológicas: enquanto o brasileiro prioriza a integração regional e políticas sociais, o argentino propõe a flexibilização do bloco e a abertura para acordos bilaterais com outras potências.
No campo econômico, o Brasil exporta entre US$ 15 e 20 bilhões anuais em produtos como automóveis, soja e máquinas para o mercado argentino. Qualquer variação política em Buenos Aires pode alterar esse fluxo.
“Qualquer instabilidade política na Argentina tende a repercutir diretamente no Brasil, especialmente no comércio bilateral e na volatilidade cambial. Uma desvalorização abrupta do peso, por exemplo, pode gerar efeitos de contágio que pressionam o real e afetam setores sensíveis, como o automotivo e o de alimentos”, afirma Magalhães.
A possível vitória de Milei poderia acelerar a flexibilização do Mercosul, favorecendo exportadores brasileiros.
Em contrapartida, uma derrota do governo tenderia a manter barreiras tarifárias e a travar reformas estruturais.
A incerteza também se estende ao acordo cambial de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos, cuja continuidade dependerá do resultado eleitoral.
Diplomacia

Milei se apresentando em show de rock
No plano diplomático, o pleito pode redefinir o tom da relação bilateral. Tensões recentes entre Brasília e Buenos Aires, expostas em fóruns regionais como a cúpula do Mercosul, devem persistir caso Milei amplie seu poder.
“Uma vitória expressiva de Milei pode acentuar tensões diplomáticas com o governo brasileiro, dada a divergência de visões sobre integração regional. Por outro lado, um Congresso mais equilibrado poderia forçar a Casa Rosada a adotar uma postura mais pragmática no Mercosul, favorecendo a cooperação institucional entre os dois países”, avalia o especialista.
A repercussão das urnas argentinas também será observada sob um prisma político mais amplo, envolvendo o conjunto das democracias latino-americanas.
“O resultado das eleições legislativas na Argentina transcende o cenário doméstico. Ele sinaliza o rumo das democracias sul-americanas, num momento em que discursos liberais radicais e reações populistas disputam espaço político em vários países, inclusive no Brasil”, diz Magalhães.
Os desdobramentos do pleito devem se refletir nas agendas econômica e diplomática da região nos próximos dois anos, com o Brasil em posição central.

Lula e Milei possuem visões diferentes ideologias
As eleições legislativas na Argentina, marcadas para este domingo (24), colocam à prova a capacidade de Javier Milei de consolidar sua base de apoio no Congresso. O resultado pode mexer com a relação do país com o Brasil.
O pleito renovará metade da Câmara dos Deputados (127 das 257 cadeiras) e um terço do Senado (24 dos 72 assentos), definindo o equilíbrio político que sustentará — ou limitará — o avanço da agenda ultraliberal do presidente.
Desde sua posse em 2023, Milei defende austeridade fiscal, desregulamentação econômica e redução do Estado.
Seu partido, LLA (La Libertad Avanza), possui apenas 37 deputados, o que impõe dificuldades para aprovar reformas estruturais, como privatizações, cortes de subsídios e mudanças no regime cambial.
Pesquisas apontam um cenário polarizado entre o LLA, o peronismo da União pela Pátria e a Pro (Proposta Republicana), de Mauricio Macri.
Para Caio Silva Magalhães, especialista em relações internacionais, o processo legislativo argentino será decisivo para os rumos do governo.
“O pleito legislativo argentino funciona como um termômetro da governabilidade de Javier Milei. A correlação de forças no Congresso definirá se o presidente terá condições de avançar com sua agenda de reformas ou se enfrentará um bloqueio institucional que pode paralisar decisões econômicas estratégicas.”, explicou ao Portal iG.
A instabilidade eleitoral ocorre em um contexto de inflação ainda elevada e risco-país acima de 900 pontos-base.
Em setembro, o LLA sofreu revés nas eleições provinciais em Buenos Aires, onde o peronismo obteve 47% dos votos, contra 34% do governo. O resultado foi interpretado como sinal de alerta para a base de Milei.
Brasil x Argentina
Os efeitos da disputa ultrapassam as fronteiras argentinas e podem impactar diretamente o Brasil, maior parceiro comercial do país dentro do Mercosul.
A relação entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei já é marcada por diferenças ideológicas: enquanto o brasileiro prioriza a integração regional e políticas sociais, o argentino propõe a flexibilização do bloco e a abertura para acordos bilaterais com outras potências.
No campo econômico, o Brasil exporta entre US$ 15 e 20 bilhões anuais em produtos como automóveis, soja e máquinas para o mercado argentino. Qualquer variação política em Buenos Aires pode alterar esse fluxo.
“Qualquer instabilidade política na Argentina tende a repercutir diretamente no Brasil, especialmente no comércio bilateral e na volatilidade cambial. Uma desvalorização abrupta do peso, por exemplo, pode gerar efeitos de contágio que pressionam o real e afetam setores sensíveis, como o automotivo e o de alimentos”, afirma Magalhães.
A possível vitória de Milei poderia acelerar a flexibilização do Mercosul, favorecendo exportadores brasileiros.
Em contrapartida, uma derrota do governo tenderia a manter barreiras tarifárias e a travar reformas estruturais.
A incerteza também se estende ao acordo cambial de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos, cuja continuidade dependerá do resultado eleitoral.
Diplomacia

Milei se apresentando em show de rock
No plano diplomático, o pleito pode redefinir o tom da relação bilateral. Tensões recentes entre Brasília e Buenos Aires, expostas em fóruns regionais como a cúpula do Mercosul, devem persistir caso Milei amplie seu poder.
“Uma vitória expressiva de Milei pode acentuar tensões diplomáticas com o governo brasileiro, dada a divergência de visões sobre integração regional. Por outro lado, um Congresso mais equilibrado poderia forçar a Casa Rosada a adotar uma postura mais pragmática no Mercosul, favorecendo a cooperação institucional entre os dois países”, avalia o especialista.
A repercussão das urnas argentinas também será observada sob um prisma político mais amplo, envolvendo o conjunto das democracias latino-americanas.
“O resultado das eleições legislativas na Argentina transcende o cenário doméstico. Ele sinaliza o rumo das democracias sul-americanas, num momento em que discursos liberais radicais e reações populistas disputam espaço político em vários países, inclusive no Brasil”, diz Magalhães.
Os desdobramentos do pleito devem se refletir nas agendas econômica e diplomática da região nos próximos dois anos, com o Brasil em posição central.
