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como o Complexo do Alemão foi de zona rural a palco de guerra

por Conexão1
30/10/25 | 18:16
em Cotidiano
Megaoperação policial terminou com 121 mortos nos Complexos do Alemão e da Penha, na última de uma série de incursões contra o Comando Vermelho
Heloísa Traiano

Megaoperação policial terminou com 121 mortos nos Complexos do Alemão e da Penha, na última de uma série de incursões contra o Comando Vermelho

Cem anos mais tarde, o Complexo do Alemão e da Penha se tornaria o cenário da operação policial mais letal da história recente do Brasil, ocorrida na terça-feira (27/10) nas favelas.

No dia seguinte, o governo estadual, comandado por Claudio Castro (PL), confirmou pelo menos 121 mortes, cifra que supera matanças como o massacre do Carandiru de 1992.

Apelido: “Alemão”

A longa história da área rural transformada no complexo de 15 comunidades, onde residem hoje 54 mil pessoas, começa com o polonês Leonard Kacsmarkiewcz.

Radicado no Brasil, ele adquiriu cerca de sete hectares nos anos 1910, segundo registros históricos citados pelas pesquisadoras Patrícia Brandão Couto e Rute Imanishi Rodrigues em relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Conta-se que o imigrante, que teria chegado ao Brasil na esteira da Primeira Guerra Mundial, ganhou o apelido de “o Alemão”, por conta da aparência que evocava ares europeus.

O seu pedaço de terra se tornaria o Morro do Alemão, que separa o complexo homônimo do Complexo da Penha — esta, com 13 comunidades. Com mais de 50 mil habitantes, o Complexo do Alemão supera a população de 90% dos municípios brasileiros.

“Aluguel de chão”

Nas três décadas seguintes às aquisições de Kacsmarkiewcz, algumas fazendas seriam registradas na região. Assim como em outras partes do Rio de Janeiro onde se formariam favelas, proprietários recorriam ao “aluguel de chão” — arrendamento de terras sem registro em cartório para pequenos produtores rurais.

Mas o polonês popularmente transformado em “alemão” apostou numa estratégia diferente. O marceneiro de profissão criou um precário loteamento urbano, sem infraestrutura, e passou a alugar os terrenos para moradias improvisadas.

As autoras do relatório do Ipea afirmam que “os primeiros focos de ocupação do atual Complexo do Alemão foram incentivados pelo setor privado, posto que os proprietários locais se beneficiavam”.

Kacsmarkiewcz se tornaria figura conhecida entre os locais por observar com uma luneta a movimentação na sua propriedade, conta o jornalista e historiador Thiago Gomide.

Com a virada para os anos 1940, o Morro do Alemão e seus entornos receberiam milhares de pessoas, a contragosto de autoridades locais.

Os novos moradores chegavam, em grande parte, para se juntar a parentes ou atraídos pelas ofertas de trabalho no polo industrial que emergia, facilitado pela inauguração da Avenida Brasil em 1946.

As primeiras ocupações irregulares do território aconteceriam nos anos 1950, quando a família Kacsmarkiewcz passou a vender os lotes mais altos.

Boom depois dos anos 1980

Não seria até os anos 1970 e 1980, entretanto, que o fenômeno ganharia magnitude. Depois de um boom populacional, o censo de 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 65 mil moradores.

O vereador Vitor Hugo (MDB), bisneto do “alemão”, relata que “logo a família começou a perder tudo por causa das invasões, e não tivemos mais controle de nada”.

Quase nenhum Kacsmarkiewcz ficou na região por causa da rampante violência do último século. Mas as terras continuam no nome da família, segundo o bisneto do pioneiro.

O gabinete do vereador fica perto do Morro do Alemão, onde recebe demandas da população sobre riscos associados às moradias em encostas, buracos nas ruas e problemas de iluminação.

O nome Complexo do Alemão seria oficialmente adotado em 1993. Naquele ano, o Exército e a Polícia Federal chegaram a montar uma operação para tentar retomar o território do CV, nascido em 1979 no antigo presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande.

Mas o plano foi abortado na última hora a mando de Leonel Brizola, então no seu segundo mandato como governador estadual, conforme reportou o Correio Braziliense. Nos dois anos seguintes, pelo menos duas outras operações deixariam 27 mortos no Alemão.

Penha, refúgio de escravizados

Já o Complexo da Penha tem no centro da sua história um quilombo em um ponto de difícil acesso da Serra da Misericórdia, que servia como refúgio de pessoas escravizadas no século 19, sob a proteção do abolicionista Padre Ricardo, da Igreja da Penha.

Lá nasceria o Quilombo da Penha e, nas primeiras décadas do século 20, se consolidaria como um dos berços da cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro, com lendas e tradições próprias.

O historiador Thiago Gomide afirma que “havia espaços onde o samba era apresentado nas ruas, antes do rádio, por figuras como Noel Rosa e Pixinguinha, além de ser um lugar marcado pelo encontro de intelectuais e pelo cruzamento de festas…”.

Foi na Vila Cruzeiro que, em 2002, o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, foi capturado e, depois, assassinado durante uma investigação sobre o abuso de menores em um baile funk.

Falência do Estado

A geografia do Alemão e da Penha, cercados de área verde e estradas de terra, é um dos fatores que tornam a localização estratégica para o crime organizado. Os complexos tornaram-se uma espécie de bastião do CV, inclusive com estruturas sofisticadas.

Em 2010, a ocupação dos dois complexos por três mil policiais e membros das Forças Armadas ganhou notoriedade após a divulgação de imagens de supostos membros do CV fugindo, pelos corredores na mata, da Vila Cruzeiro ao Alemão.

Porém, as operações ao longo dos anos 2000 não se mostraram eficientes em manter a paz duradoura nas comunidades.

Em 2015 e 2019, as favelas do Alemão foram palco das mortes do menino Eduardo Ferreira Calei, de 10 anos, e da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, ambos atingidos por tiros de fuzil durante confrontos entre policiais militares e o crime organizado.

A Vila Cruzeiro seria, em 2022, alvo de mais uma operação policial que resultou na morte de 23 pessoas, se tornando a segunda mais letal do estado do Rio de Janeiro, superada apenas pelo massacre do Jacarezinho, que deixou 28 mortos.

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Cem anos mais tarde, o Complexo do Alemão e da Penha se tornaria o cenário da operação policial mais letal da história recente do Brasil, ocorrida na terça-feira (27/10) nas favelas.

No dia seguinte, o governo estadual, comandado por Claudio Castro (PL), confirmou pelo menos 121 mortes, cifra que supera matanças como o massacre do Carandiru de 1992.

Apelido: “Alemão”

A longa história da área rural transformada no complexo de 15 comunidades, onde residem hoje 54 mil pessoas, começa com o polonês Leonard Kacsmarkiewcz.

Radicado no Brasil, ele adquiriu cerca de sete hectares nos anos 1910, segundo registros históricos citados pelas pesquisadoras Patrícia Brandão Couto e Rute Imanishi Rodrigues em relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Conta-se que o imigrante, que teria chegado ao Brasil na esteira da Primeira Guerra Mundial, ganhou o apelido de “o Alemão”, por conta da aparência que evocava ares europeus.

O seu pedaço de terra se tornaria o Morro do Alemão, que separa o complexo homônimo do Complexo da Penha — esta, com 13 comunidades. Com mais de 50 mil habitantes, o Complexo do Alemão supera a população de 90% dos municípios brasileiros.

“Aluguel de chão”

Nas três décadas seguintes às aquisições de Kacsmarkiewcz, algumas fazendas seriam registradas na região. Assim como em outras partes do Rio de Janeiro onde se formariam favelas, proprietários recorriam ao “aluguel de chão” — arrendamento de terras sem registro em cartório para pequenos produtores rurais.

Mas o polonês popularmente transformado em “alemão” apostou numa estratégia diferente. O marceneiro de profissão criou um precário loteamento urbano, sem infraestrutura, e passou a alugar os terrenos para moradias improvisadas.

As autoras do relatório do Ipea afirmam que “os primeiros focos de ocupação do atual Complexo do Alemão foram incentivados pelo setor privado, posto que os proprietários locais se beneficiavam”.

Kacsmarkiewcz se tornaria figura conhecida entre os locais por observar com uma luneta a movimentação na sua propriedade, conta o jornalista e historiador Thiago Gomide.

Com a virada para os anos 1940, o Morro do Alemão e seus entornos receberiam milhares de pessoas, a contragosto de autoridades locais.

Os novos moradores chegavam, em grande parte, para se juntar a parentes ou atraídos pelas ofertas de trabalho no polo industrial que emergia, facilitado pela inauguração da Avenida Brasil em 1946.

As primeiras ocupações irregulares do território aconteceriam nos anos 1950, quando a família Kacsmarkiewcz passou a vender os lotes mais altos.

Boom depois dos anos 1980

Não seria até os anos 1970 e 1980, entretanto, que o fenômeno ganharia magnitude. Depois de um boom populacional, o censo de 2000 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 65 mil moradores.

O vereador Vitor Hugo (MDB), bisneto do “alemão”, relata que “logo a família começou a perder tudo por causa das invasões, e não tivemos mais controle de nada”.

Quase nenhum Kacsmarkiewcz ficou na região por causa da rampante violência do último século. Mas as terras continuam no nome da família, segundo o bisneto do pioneiro.

O gabinete do vereador fica perto do Morro do Alemão, onde recebe demandas da população sobre riscos associados às moradias em encostas, buracos nas ruas e problemas de iluminação.

O nome Complexo do Alemão seria oficialmente adotado em 1993. Naquele ano, o Exército e a Polícia Federal chegaram a montar uma operação para tentar retomar o território do CV, nascido em 1979 no antigo presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande.

Mas o plano foi abortado na última hora a mando de Leonel Brizola, então no seu segundo mandato como governador estadual, conforme reportou o Correio Braziliense. Nos dois anos seguintes, pelo menos duas outras operações deixariam 27 mortos no Alemão.

Penha, refúgio de escravizados

Já o Complexo da Penha tem no centro da sua história um quilombo em um ponto de difícil acesso da Serra da Misericórdia, que servia como refúgio de pessoas escravizadas no século 19, sob a proteção do abolicionista Padre Ricardo, da Igreja da Penha.

Lá nasceria o Quilombo da Penha e, nas primeiras décadas do século 20, se consolidaria como um dos berços da cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro, com lendas e tradições próprias.

O historiador Thiago Gomide afirma que “havia espaços onde o samba era apresentado nas ruas, antes do rádio, por figuras como Noel Rosa e Pixinguinha, além de ser um lugar marcado pelo encontro de intelectuais e pelo cruzamento de festas…”.

Foi na Vila Cruzeiro que, em 2002, o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, foi capturado e, depois, assassinado durante uma investigação sobre o abuso de menores em um baile funk.

Falência do Estado

A geografia do Alemão e da Penha, cercados de área verde e estradas de terra, é um dos fatores que tornam a localização estratégica para o crime organizado. Os complexos tornaram-se uma espécie de bastião do CV, inclusive com estruturas sofisticadas.

Em 2010, a ocupação dos dois complexos por três mil policiais e membros das Forças Armadas ganhou notoriedade após a divulgação de imagens de supostos membros do CV fugindo, pelos corredores na mata, da Vila Cruzeiro ao Alemão.

Porém, as operações ao longo dos anos 2000 não se mostraram eficientes em manter a paz duradoura nas comunidades.

Em 2015 e 2019, as favelas do Alemão foram palco das mortes do menino Eduardo Ferreira Calei, de 10 anos, e da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, ambos atingidos por tiros de fuzil durante confrontos entre policiais militares e o crime organizado.

A Vila Cruzeiro seria, em 2022, alvo de mais uma operação policial que resultou na morte de 23 pessoas, se tornando a segunda mais letal do estado do Rio de Janeiro, superada apenas pelo massacre do Jacarezinho, que deixou 28 mortos.

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