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Hora de manter as portas abertas

por Conexão1
19/10/25 | 06:09
em Cotidiano
Mauro Vieira e Marco Rubio
Reprodução/Itamaraty

Mauro Vieira e Marco Rubio

Nada foi decidido e seria estranho se houvesse algum avanço. O único resultado concreto do encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio — que ocorreu na tarde de quinta-feira passada, na Casa Branca, em Washington — foi a realização do próprio encontro. Os dois se reuniram por pouco mais de uma hora, sendo 15 minutos numa conversa totalmente reservada e o restante do tempo com a presença de assessores. Diante das circunstâncias que cercaram o encontro, esse era o melhor resultado que se poderia esperar.

Foi a primeira vez, desde que Rubio assumiu como Secretário de Estado em janeiro, que os dois tiveram uma reunião presencial. A abertura de uma discussão sobre temas importantes para os dois países — algo que parecia impossível cerca de um mês atrás — pode ser considerado um grande avanço. De acordo com as expectativas da delegação brasileira, conforme divulgado pela imprensa nos dias que antecederam a reunião, a pauta incluiria a redução das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre a maioria dos produtos importados do Brasil e a revogação de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, vistas por Washington como violadores de direitos humanos.

Do lado americano, as reivindicações não foram tornadas públicas. Contudo, é evidente que há interesse em facilitar o acesso às terras raras, que o Brasil possui em abundância e das quais os Estados Unidos necessitam para abastecer a indústria eletroeletrônica e a produção de armas. A pauta era complexa e extensa, o que impossibilitou que todas as questões fossem abordadas em uma hora de conversa. A solução das pendências exigirá muitas horas de negociações — podendo algumas delas permanecer sem resolução.

Assim, é compreensível que Rubio e Vieira saíssem sem resultados concretos para apresentar — a não ser anunciar que o canal de diálogo está desobstruído. Os negociadores de ambos os lados entrarão em ação e as conversas serão retomadas oportunamente. Uma conversa entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve ocorrer ainda este ano.

É curioso que Vieira e Rubio tenham abordado, neste primeiro encontro, todas as divergências acumuladas entre os governos dos dois países nos últimos tempos. Seria ainda mais surpreendente se, em apenas uma hora, fosse possível reduzir tarifas, eliminar sanções a autoridades e chegar a um acordo sobre terras raras. Mais inacreditável ainda seria o secretário Rubio, em nome do governo dos Estados Unidos, ignorar a extensa lista de divergências recentes, intensificadas pelas escolhas que têm levado o Brasil, cada vez mais, a se alinhar com a Rússia, China e Irã.

Preocupação extrema
É importante não perder de vista as causas das divergências entre os dois países — e essa recordação é essencial para evitar expectativas irrealistas sobre a possibilidade de restabelecimento imediato da normalidade nas relações. Haverá muitas idas e vindas antes que um acordo seja alcançado. Há uma série de entraves a serem removidos e, para que esse trabalho seja bem-sucedido, será necessária uma mudança de postura que só ocorrerá caso ambos os governos, ou pelo menos um deles, revejam sua linha de atuação. Essa hipótese, convenhamos, não parece compatível com o estilo dos governos brasileiro e americano atuais. Os líderes demonstram mais apreço em manter suas convicções do que em ceder um milímetro em favor do outro.

Na quarta-feira, véspera do encontro entre Vieira e Rubio, o Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, afirmou em coletiva em Washington que, da tarifa de 50% imposta ao Brasil, apenas dez pontos percentuais referem-se à tarifa recíproca, utilizada para controlar o “déficit comercial global”. Os restantes 40% dizem respeito a “preocupações extremas com o Estado de Direito, a censura e os direitos humanos” no Brasil. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, complementou que a punição se explica também pela “detenção ilegal de cidadãos americanos que estavam no Brasil”. Greer, conhecido por sua postura assertiva, fez parte da delegação americana que, no dia seguinte, participou das conversas com os diplomatas brasileiros sob a liderança de Vieira. Conhecedores do estilo diplomático americano acreditam que as declarações de Greer e de Bessent serviram apenas para embasar as negociações que se iniciariam no dia seguinte.

Portanto, promover reuniões e aceitar o diálogo é importante, mas não é suficiente para colocar um ponto final nas desavenças. Se o Brasil realmente deseja eliminar as tarifas que dificultam a entrada de seus produtos no mercado americano, terá que rever alguns processos e abordar com mais cautela temas que, nos últimos meses, contribuíram para as divergências com os Estados Unidos.

Em termos claros, o ideal seria que o governo brasileiro abandonasse a retórica antiamericana e deixasse de fazer provocações para Washington. Defender publicamente a Venezuela e Cuba — questões sensíveis para o secretário Marco Rubio — é, no mínimo, uma provocação desnecessária. O presidente Lula fez referências a esses países em um discurso direcionado aos comunistas do PCdoB na quinta-feira passada, uma tentativa de agradar o público do evento. No entanto, deveria estar claro para os marqueteiros do PT que qualquer declaração no Brasil é prontamente ouvida pelas autoridades de Washington. Se o foco agora são as negociações com os Estados Unidos, talvez fosse mais prudente ser discreto em relação a temas que vão contra as posições da Casa Branca e que não trazem vantagens para o Brasil.

Sem abrir mão do direito de definir sua política externa e de escolher parceiros comerciais, o Brasil avançaria muito se sua diplomacia comercial passasse a priorizar os interesses econômicos. Isso evitaria que as ações do Itamaraty fossem guiadas por uma perspectiva ideológica excessivamente juvenil.

Pangloss x Hardy Har Har
É viável? Sim, é possível! O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, esteve em Nova Deli na semana passada e anunciou a ampliação de acordos no âmbito do Mercosul, que podem aumentar as exportações de produtos brasileiros, especialmente alimentos, para a Índia, que atualmente apresenta taxas de crescimento superiores às da China. Apesar de discreto, o anúncio do acordo pode incomodar agricultores americanos, que são os principais concorrentes mundiais do agronegócio brasileiro. Contudo, é inaceitável que o Brasil abdique desse mercado bilionário em favor dos concorrentes americanos. A proposta é que o Itamaraty retorne ao princípio do “pragmatismo responsável”, onde os interesses do país têm precedência sobre as preferências ideológicas do governo. A diplomacia brasileira deve ser guiada pela defesa dos interesses soberanos da nação, em vez de buscar agradar aliados que, por coincidência, são os maiores adversários dos Estados Unidos.

Essa é a principal causa das divergências que se tornaram sérias e profundas demais para serem resolvidas em um único encontro entre Rubio e Vieira. Portanto, não havia sentido no otimismo ingênuo que se espalhou pelo Brasil após o discurso do presidente Donald Trump na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no último dia 23 de setembro. Naquele momento, Trump mencionou o encontro breve que teve com Lula, e convidou-o para uma conversa. A possibilidade desse encontro serviu para quebrar o gelo acumulado nos últimos meses. No entanto, afirmar que a química entre Trump e Lula foi suficiente para resolver os obstáculos entre os dois países é exagerado.

Após isso, os eventos ocorreram rapidamente e sempre por iniciativa das autoridades americanas. Uma conversa por videoconferência entre Lula e Trump no dia 6 de outubro confirmou a retomada do diálogo. Um telefonema de Rubio para Vieira, no dia seguinte à conversa entre os presidentes, levou ao agendamento da reunião de quinta-feira passada.

Diante de uma situação em que nada estava acontecendo, a conversa da semana passada pode ser considerada um avanço. Contudo, acreditar que esse ponto de partida, mesmo com as conversas de bastidores, foi esclarecedor o suficiente para resolver todas as desavenças e ressentimentos é uma visão excessivamente otimista e ingênua.

É importante ressaltar: supor que as conversas recentes entre os dois governos tivessem força suficiente para encerrar os desentendimentos e resolver os impasses acumulados é uma ideia que não faria sentido nem para o Dr. Pangloss — o otimista ingênuo criado por Voltaire. Por outro lado, não se deve avaliar a situação pela perspectiva do personagem pessimista Hardy Har Har, que nunca acreditava que nada poderia dar certo.

Razões do desentendimento
Em resumo, o resultado do diálogo da última quinta-feira não foi tão negativo quanto os opositores do governo Lula esperavam, mas também não foi tão positivo quanto aqueles que acreditavam que um entendimento poderia ser alcançado pela “química” entre Lula e Trump. O essencial, a partir de agora, é encarar a situação com a maturidade que às vezes falta às autoridades brasileiras. A relação entre os dois países só poderá voltar à normalidade se houver uma revisão nas escolhas e na postura que conduziram à situação atual.

É necessário observar que, embora o contencioso tenha se agravado e afetado as relações bilaterais de longa data entre os dois países, ele não foi resultado de uma decisão repentina. Antes do anúncio das tarifas de 50%, os Estados Unidos enviaram uma série de sinais de desconforto em relação às posturas brasileiras. Apesar de os alertas sobre a postura do Brasil terem sido claros e enfáticos, muitos diplomatas brasileiros foram pegos de surpresa.

Mais do que acreditar que a química entre Lula e Trump solucionará todos os problemas, é necessário compreender as reais razões do desentendimento entre os dois países. Muitos no Brasil — alguns por ingenuidade, outros por má fé — afirmam que as desavenças decorrem apenas das ações do deputado Eduardo Bolsonaro e de seu secretário, o jornalista Paulo Figueiredo, nos Estados Unidos.

De fato, ambos têm viajado por terras americanas com a intenção de denunciar o que consideram uma perseguição implacável contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, afirmar que eles possuem poder suficiente para desestabilizar a relação entre os dois países é uma visão distorcida da realidade. O incômodo do governo brasileiro não estava apenas nas declarações de Bolsonaro e Figueiredo — que muitos consideram relevantes para a defesa da “soberania nacional”, do qual o governo busca recuperar sua popularidade. O que realmente preocupava o governo brasileiro era a exposição da verdade incômoda: Bolsonaro e Figueiredo tinham aquilo que faltava ao Itamaraty: interlocução com o governo dos Estados Unidos e acesso a autoridades de alto escalão em Washington.

Entretanto, acreditar que as divergências entre os dois países resultam exclusivamente das declarações de Bolsonaro e Figueiredo é um ponto de vista que desafia a lógica. O tratamento dado pelos Estados Unidos ao Brasil — incluindo as tarifas de 50% e as sanções contra autoridades que, segundo a Casa Branca, agiram contra os interesses americanos — é reflexo das escolhas e decisões adotadas pelo Brasil recentemente. A questão é: interessa ao Brasil reverter as tarifas e suspender as sanções? Se a resposta for positiva, cabe ao Brasil, e não aos Estados Unidos, alterar sua postura e optar por um caminho diferente. Se o Brasil continuar criticando as decisões do governo americano e não se dispuser a ceder, pode ser que, não obstante as portas permanecerem abertas, nem toda química do mundo consiga reverter a situação. E a economia brasileira continuará a arcar com o custo das decisões meramente ideológicas de seus diplomatas e autoridades. Vale a pena?

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Mauro Vieira e Marco Rubio
Reprodução/Itamaraty

Mauro Vieira e Marco Rubio

Nada foi decidido e seria estranho se houvesse algum avanço. O único resultado concreto do encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio — que ocorreu na tarde de quinta-feira passada, na Casa Branca, em Washington — foi a realização do próprio encontro. Os dois se reuniram por pouco mais de uma hora, sendo 15 minutos numa conversa totalmente reservada e o restante do tempo com a presença de assessores. Diante das circunstâncias que cercaram o encontro, esse era o melhor resultado que se poderia esperar.

Foi a primeira vez, desde que Rubio assumiu como Secretário de Estado em janeiro, que os dois tiveram uma reunião presencial. A abertura de uma discussão sobre temas importantes para os dois países — algo que parecia impossível cerca de um mês atrás — pode ser considerado um grande avanço. De acordo com as expectativas da delegação brasileira, conforme divulgado pela imprensa nos dias que antecederam a reunião, a pauta incluiria a redução das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre a maioria dos produtos importados do Brasil e a revogação de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, vistas por Washington como violadores de direitos humanos.

Do lado americano, as reivindicações não foram tornadas públicas. Contudo, é evidente que há interesse em facilitar o acesso às terras raras, que o Brasil possui em abundância e das quais os Estados Unidos necessitam para abastecer a indústria eletroeletrônica e a produção de armas. A pauta era complexa e extensa, o que impossibilitou que todas as questões fossem abordadas em uma hora de conversa. A solução das pendências exigirá muitas horas de negociações — podendo algumas delas permanecer sem resolução.

Assim, é compreensível que Rubio e Vieira saíssem sem resultados concretos para apresentar — a não ser anunciar que o canal de diálogo está desobstruído. Os negociadores de ambos os lados entrarão em ação e as conversas serão retomadas oportunamente. Uma conversa entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve ocorrer ainda este ano.

É curioso que Vieira e Rubio tenham abordado, neste primeiro encontro, todas as divergências acumuladas entre os governos dos dois países nos últimos tempos. Seria ainda mais surpreendente se, em apenas uma hora, fosse possível reduzir tarifas, eliminar sanções a autoridades e chegar a um acordo sobre terras raras. Mais inacreditável ainda seria o secretário Rubio, em nome do governo dos Estados Unidos, ignorar a extensa lista de divergências recentes, intensificadas pelas escolhas que têm levado o Brasil, cada vez mais, a se alinhar com a Rússia, China e Irã.

Preocupação extrema
É importante não perder de vista as causas das divergências entre os dois países — e essa recordação é essencial para evitar expectativas irrealistas sobre a possibilidade de restabelecimento imediato da normalidade nas relações. Haverá muitas idas e vindas antes que um acordo seja alcançado. Há uma série de entraves a serem removidos e, para que esse trabalho seja bem-sucedido, será necessária uma mudança de postura que só ocorrerá caso ambos os governos, ou pelo menos um deles, revejam sua linha de atuação. Essa hipótese, convenhamos, não parece compatível com o estilo dos governos brasileiro e americano atuais. Os líderes demonstram mais apreço em manter suas convicções do que em ceder um milímetro em favor do outro.

Na quarta-feira, véspera do encontro entre Vieira e Rubio, o Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, afirmou em coletiva em Washington que, da tarifa de 50% imposta ao Brasil, apenas dez pontos percentuais referem-se à tarifa recíproca, utilizada para controlar o “déficit comercial global”. Os restantes 40% dizem respeito a “preocupações extremas com o Estado de Direito, a censura e os direitos humanos” no Brasil. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, complementou que a punição se explica também pela “detenção ilegal de cidadãos americanos que estavam no Brasil”. Greer, conhecido por sua postura assertiva, fez parte da delegação americana que, no dia seguinte, participou das conversas com os diplomatas brasileiros sob a liderança de Vieira. Conhecedores do estilo diplomático americano acreditam que as declarações de Greer e de Bessent serviram apenas para embasar as negociações que se iniciariam no dia seguinte.

Portanto, promover reuniões e aceitar o diálogo é importante, mas não é suficiente para colocar um ponto final nas desavenças. Se o Brasil realmente deseja eliminar as tarifas que dificultam a entrada de seus produtos no mercado americano, terá que rever alguns processos e abordar com mais cautela temas que, nos últimos meses, contribuíram para as divergências com os Estados Unidos.

Em termos claros, o ideal seria que o governo brasileiro abandonasse a retórica antiamericana e deixasse de fazer provocações para Washington. Defender publicamente a Venezuela e Cuba — questões sensíveis para o secretário Marco Rubio — é, no mínimo, uma provocação desnecessária. O presidente Lula fez referências a esses países em um discurso direcionado aos comunistas do PCdoB na quinta-feira passada, uma tentativa de agradar o público do evento. No entanto, deveria estar claro para os marqueteiros do PT que qualquer declaração no Brasil é prontamente ouvida pelas autoridades de Washington. Se o foco agora são as negociações com os Estados Unidos, talvez fosse mais prudente ser discreto em relação a temas que vão contra as posições da Casa Branca e que não trazem vantagens para o Brasil.

Sem abrir mão do direito de definir sua política externa e de escolher parceiros comerciais, o Brasil avançaria muito se sua diplomacia comercial passasse a priorizar os interesses econômicos. Isso evitaria que as ações do Itamaraty fossem guiadas por uma perspectiva ideológica excessivamente juvenil.

Pangloss x Hardy Har Har
É viável? Sim, é possível! O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, esteve em Nova Deli na semana passada e anunciou a ampliação de acordos no âmbito do Mercosul, que podem aumentar as exportações de produtos brasileiros, especialmente alimentos, para a Índia, que atualmente apresenta taxas de crescimento superiores às da China. Apesar de discreto, o anúncio do acordo pode incomodar agricultores americanos, que são os principais concorrentes mundiais do agronegócio brasileiro. Contudo, é inaceitável que o Brasil abdique desse mercado bilionário em favor dos concorrentes americanos. A proposta é que o Itamaraty retorne ao princípio do “pragmatismo responsável”, onde os interesses do país têm precedência sobre as preferências ideológicas do governo. A diplomacia brasileira deve ser guiada pela defesa dos interesses soberanos da nação, em vez de buscar agradar aliados que, por coincidência, são os maiores adversários dos Estados Unidos.

Essa é a principal causa das divergências que se tornaram sérias e profundas demais para serem resolvidas em um único encontro entre Rubio e Vieira. Portanto, não havia sentido no otimismo ingênuo que se espalhou pelo Brasil após o discurso do presidente Donald Trump na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no último dia 23 de setembro. Naquele momento, Trump mencionou o encontro breve que teve com Lula, e convidou-o para uma conversa. A possibilidade desse encontro serviu para quebrar o gelo acumulado nos últimos meses. No entanto, afirmar que a química entre Trump e Lula foi suficiente para resolver os obstáculos entre os dois países é exagerado.

Após isso, os eventos ocorreram rapidamente e sempre por iniciativa das autoridades americanas. Uma conversa por videoconferência entre Lula e Trump no dia 6 de outubro confirmou a retomada do diálogo. Um telefonema de Rubio para Vieira, no dia seguinte à conversa entre os presidentes, levou ao agendamento da reunião de quinta-feira passada.

Diante de uma situação em que nada estava acontecendo, a conversa da semana passada pode ser considerada um avanço. Contudo, acreditar que esse ponto de partida, mesmo com as conversas de bastidores, foi esclarecedor o suficiente para resolver todas as desavenças e ressentimentos é uma visão excessivamente otimista e ingênua.

É importante ressaltar: supor que as conversas recentes entre os dois governos tivessem força suficiente para encerrar os desentendimentos e resolver os impasses acumulados é uma ideia que não faria sentido nem para o Dr. Pangloss — o otimista ingênuo criado por Voltaire. Por outro lado, não se deve avaliar a situação pela perspectiva do personagem pessimista Hardy Har Har, que nunca acreditava que nada poderia dar certo.

Razões do desentendimento
Em resumo, o resultado do diálogo da última quinta-feira não foi tão negativo quanto os opositores do governo Lula esperavam, mas também não foi tão positivo quanto aqueles que acreditavam que um entendimento poderia ser alcançado pela “química” entre Lula e Trump. O essencial, a partir de agora, é encarar a situação com a maturidade que às vezes falta às autoridades brasileiras. A relação entre os dois países só poderá voltar à normalidade se houver uma revisão nas escolhas e na postura que conduziram à situação atual.

É necessário observar que, embora o contencioso tenha se agravado e afetado as relações bilaterais de longa data entre os dois países, ele não foi resultado de uma decisão repentina. Antes do anúncio das tarifas de 50%, os Estados Unidos enviaram uma série de sinais de desconforto em relação às posturas brasileiras. Apesar de os alertas sobre a postura do Brasil terem sido claros e enfáticos, muitos diplomatas brasileiros foram pegos de surpresa.

Mais do que acreditar que a química entre Lula e Trump solucionará todos os problemas, é necessário compreender as reais razões do desentendimento entre os dois países. Muitos no Brasil — alguns por ingenuidade, outros por má fé — afirmam que as desavenças decorrem apenas das ações do deputado Eduardo Bolsonaro e de seu secretário, o jornalista Paulo Figueiredo, nos Estados Unidos.

De fato, ambos têm viajado por terras americanas com a intenção de denunciar o que consideram uma perseguição implacável contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, afirmar que eles possuem poder suficiente para desestabilizar a relação entre os dois países é uma visão distorcida da realidade. O incômodo do governo brasileiro não estava apenas nas declarações de Bolsonaro e Figueiredo — que muitos consideram relevantes para a defesa da “soberania nacional”, do qual o governo busca recuperar sua popularidade. O que realmente preocupava o governo brasileiro era a exposição da verdade incômoda: Bolsonaro e Figueiredo tinham aquilo que faltava ao Itamaraty: interlocução com o governo dos Estados Unidos e acesso a autoridades de alto escalão em Washington.

Entretanto, acreditar que as divergências entre os dois países resultam exclusivamente das declarações de Bolsonaro e Figueiredo é um ponto de vista que desafia a lógica. O tratamento dado pelos Estados Unidos ao Brasil — incluindo as tarifas de 50% e as sanções contra autoridades que, segundo a Casa Branca, agiram contra os interesses americanos — é reflexo das escolhas e decisões adotadas pelo Brasil recentemente. A questão é: interessa ao Brasil reverter as tarifas e suspender as sanções? Se a resposta for positiva, cabe ao Brasil, e não aos Estados Unidos, alterar sua postura e optar por um caminho diferente. Se o Brasil continuar criticando as decisões do governo americano e não se dispuser a ceder, pode ser que, não obstante as portas permanecerem abertas, nem toda química do mundo consiga reverter a situação. E a economia brasileira continuará a arcar com o custo das decisões meramente ideológicas de seus diplomatas e autoridades. Vale a pena?

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