Pela terceira vez em menos de uma semana, a Coreia do Norte lançou balões carregados de fezes e lixo em direção à Coreia do Sul. Segundo informações de Seul, aproximadamente 720 balões, contendo sacolas com objetos como bitucas de cigarro, foram identificados durante a noite de sábado (1) e a manhã de domingo (2).
“Cerca de 20 a 50 balões passaram pelo ar a cada hora”, informou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em um comunicado. Os balões chegaram à região norte da Coreia do Sul, incluindo a capital, Seul, e a província de Gyeonggi, que abriga cerca da metade da população do país, de acordo com a nota.
Desde o início da campanha de Pyongyang, na terça-feira passada (28), cerca de mil balões foram detectados, alguns deles contendo fezes de animais, conforme relatado por Seul. Os balões lançados neste domingo continham “resíduos como pontas de cigarro, papel, pedaços de tecido e plástico” e não continham substâncias perigosas, conforme informou o Estado-Maior.
“Instamos o público a evitar o contato com os balões e a relatá-los à unidade militar ou estação policial mais próxima”, acrescentou o comunicado militar.
Na quarta-feira (29), um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação dos balões enviados pela Coreia do Norte. “Ao colocar lixo e objetos diversos em balões, eles parecem querer testar como nosso povo reagiria e se nosso governo de fato seria perturbado”, declarou ele a jornalistas.
No entanto, neste domingo, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol adotou um tom mais severo, acusando o país vizinho de “provocações sujas que nenhum país normal imaginaria” e afirmando que Seul começaria a tomar “medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis”.
Essas medidas poderiam incluir a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira — ação que o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, considerou tão ameaçadora que certa vez chamou de “cancro cruel”. Esse tipo de provocação havia sido interrompido em 2018, após uma rara cúpula entre os dois países.
Ao retomar os lançamentos de balões com lixo, Pyongyang alega estar respondendo “na mesma moeda” às ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam “panfletos e várias coisas sujas” na fronteira. Ativistas sul-coreanos frequentemente enviam balões contendo panfletos anti-Pyongyang, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.
Provocações entre as duas Coreias são frequentes. Desde o armistício da Guerra da Coreia, em 1953, os países permanecem tecnicamente em guerra, separados por uma zona desmilitarizada.
Geralmente, as ações envolvem exercícios militares e lançamentos de foguetes. Na última quinta-feira (30), por exemplo, a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, segundo informou Seul.
A estratégia recente de lançamentos de balões remonta à Guerra Fria, quando a Coreia do Norte e a Coreia do Sul utilizavam propaganda para influenciar um ao outro por meio de transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes transmitiam canções de propaganda dia e noite para soldados rivais, e cartazes incentivavam deserções para o “paraíso do povo” no Norte ou para o Sul “livre e democrático”.
Durante esse período, o envio de balões carregados de folhetos no espaço aéreo do país vizinho já era uma prática comum. Milhões desses panfletos difamatórios foram espalhados pela Península Coreana, e tanto no Norte quanto no Sul, a população era proibida de lê-los ou guardá-los. No Sul, a polícia incentivava as crianças a denunciar os panfletos encontrados, oferecendo lápis e outros materiais escolares como recompensa.